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Rodivaldo Ribeiron- www.rdnews.com.br

Mato Grosso tem os tradicionais rincões de turismo, como Chapada dos Guimarães, Nobres e outros, mas há muito mais a ser explorado e descoberto, tanto como produto já concretizado (com estrutura básica de hospedagem, alimentação e traslados), quanto potencial (lugares já descobertos e a descobrir, mas já utilizados pelas populações locais ou trilheiros). Banhado por águas em todos os sentidos dos quatro pontos cardeais e com quase todos os biomas brasileiros presentes, é tudo uma questão de ter vontade e disposição, conta ao o secretário-adjunto estadual de Turismo, Luiz Carlos Nigro.

Gilberto Leite

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   Secretário-adjunto de Turismo, Luiz Carlos Nigro, ressalta potenciais turísticos em Mato Grosso

E ele mostra números superlativos relacionados ao setor, pois durante 2015 (os números de 2016 ainda não estão fechados), a menor taxa de ocupação média da rede hoteleira foi em janeiro, de 40,42%; enquanto a época de maior foi agosto, quando 61,19% de todas as vagas de hospedagem da Capital estavam ocupadas.

Cuiabá ainda é o centro do turismo no Estado, pois muitas pessoas, especialmente os estrangeiros, utilizam a cidade como ponto de partida para outros pontos. Muitas vezes por falta de estrutura nesses locais, admite o secretário. “Falta, às vezes, a percepção da população da região de que deve haver, sim, uma política pública voltada ao setor, mas é também meio de investimento e oportunidade de trabalho no meio de uma crise, por exemplo”, argumenta.

Locais estruturados para recepção de turistas costumam tornar-se meio de vida de comunidades inteiras, como acontece, por exemplo, com os índios Pareci, de Campo Novo dos Parecis (a 600 km da Capital). Lá, é possível, além de conhecer locais de beleza concreta como o belíssimo rio Sucuruína, que passa sob a Ponte de Pedra, um local sagrado da etnia Pareci, onde é possível –– à moda das comunidades norte-americanas –– ao visitante ter uma experiência de imersão em uma aldeia indígena. Ficar dias ou semanas vivendo como um legítimo indígena.

Há pacotes específicos para isso, e o resultado foi tornar a aldeia comandada pelo cacique Rony Paresi a mais estruturada de todas do Estado. Com a renda, os primeiros mato-grossenses compram coisas que faltam a diversas outras, como remédios, roupas, comida, algumas facilidades dos tempos modernos, ao mesmo tempo em que conseguem com isso manter a própria cultura, celebrando-a e a apresentando aos brancos.

“Quando se fala de turismo é bom fazer essa diferenciação, do que é produto, como o que se tem em Chapada dos Guimarães, com hospedagem, estacionamento, guias, alimentação, do que é potencial. Isso ainda está em desenvolvimento em Campo Novo, por exemplo, apesar da ação bem estruturada pelo cacique Rony”, explica Nigro.

Chapada poderia melhorar e muito, lembra, com a construção de um teleférico, apesar de já ter produtos prontos como o Parque Nacional (onde é possível conhecer sete cachoeiras na companhia de um guia), Cidade de Pedra e o Paredão do Eco, locais esses com infraestrutura necessária para o chamado turismo natural.

Locais como Vila Bela da Santíssima Trindade e Curvelândia são potenciais ainda sem produtos não formatados, diferente de Nobres, a exemplo. Todas essas coisas têm forte apelo entre as pessoas advindas do Sudeste do país, visto serem dessa região a maior parte dos ocupantes de vagas de hotel, respondendo por 52% do total, e especialmente os paulistas, de acordo com os dados oficiais da secretaria-adjunta, pois foi daquele Estado que vieram 40% destes, mesmo com o valor médio das diárias a R$ 204,54 (no mês mais caro, em dezembro) e a R$ 173,17 na média da considerada “baixa”, no caso, o mês de janeiro do ano de 2015.

Esses níveis de ocupação são considerados fortes para o setor, pois se é abaixo do de São Paulo no período (11,5% menor), ganha de capitais mais antigas e melhor estruturadas para o turismo, como Belo Horizonte (Cuiabá hospedou 16,2% mais gente no mesmo período), com taxas médias de diária menores, no caso, 5,8% abaixo de Belo Horizonte e 83,9% quando a referência é a capital do estado de São Paulo.

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 Cacique Rony Paresi que coordena etnia Pareci de Campo Novo dos Parecis, local de belezas

Números comemorados pelo secretário-adjunto. Ele lembra também de outros lugares não tão popularizados, mas cuja estrutura já é de produto, como Alta Floresta (distante quase mil quilômetros ao Norte de Cuiabá, na divisa com o estado do Pará, em plena floresta amazônica), que tem um hotel lodge especializado em observação da vida natural amazônica e o melhor lugar da amazônia brasileira para realização do turismo de avistamento e fotografia de pássaros.

“Há uma torre central que é um mirante e é alta o suficiente para que o visitante tenha uma vista acima das árvores, no meio da floresta amazônica, uma coisa realmente fantástica, lá dentro do Hotel Cristalino Lodge”, recomenda Nigro. Outro exemplo de exploração econômica sustentável de pontos turísticos é o Sesc Pantanal, cuja área de preservação ambiental (restrita a pesquisadores e fechada para turistas) dentro do Pantanal tornou-se referência na conservação de espécies e livramento de outras, como a onça-pintada, ameaçada de extinção durante anos e com população considerável na área administrada e cuidada pela instituição público-privada.

Esses são exemplos de como há novas oportunidades a serem desbravadas economicamente, argumenta o secretário, lembrando que em Alta Floresta tudo começou como turismo de pesca e daí se desenvolveu para o que é hoje. Tudo porque a exploração da pesca é sazonal e proibida em um período do ano, enquanto o restante das atividades, como observação das aves, das árvores e passeios na floresta, não para em época nenhuma.

O mesmo acontece com a observação de onças, hoje possível dentro do Pantanal. Hoteis antes fechados na região na época da piracema agora seguem abertos para observação dos grandes gatos em seu habitat natural. Com visitas guiadas e seguras, obviamente. “Outra cidade maravilhosa para o turismo é Barra do Garças, essa muito bem organizada e estruturada”, lembra Nigro. “O festival de praia é um dos mais famosos do país e às vezes acontece de o cuiabano não conhecer”.

De volta ao raciocínio de que o turismo não deve depender só do fomento público, o adjunto fala de um certo paradoxo com relação ao problema da Salgadeira, que ajudou a popularizar outros destinos com seu fechamento para obras de reestruturação. Atrasadas, aliás, mais de quatro anos. Essas obras foram orçadas em 2012 (o local está fechado desde 2010) em R$ 6,3 milhões e jamais foram concluídas. Ninguém sabe porque, mas a justificativa oficial são as pendengas judiciais. Na última vez em que a secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) falou sobre o assunto (novembro de 2016), a informação era de abertura de nova licitação. O caso não andou e é de responsabilidade da secretaria-adjunta de Turismo.

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Etnia Pareci, local com belezas naturais, como o rio Sucuruína, que passa sob a Ponte de Pedra

Entre 2010 e 2015, o Aeroporto Marechal Rondon quase dobrou o número de embarques e desembarques, chegando a 97,6% de aumento, com destaque considerável de 2010 a 2011, com 52,6%. No ano da Copa, o fluxo de passageiros subiu 10,1%, se comparado a 2013, passando da casa dos 3,3 milhões, estabilizando em 2015, que teve uma baixa elevação de 0,8%.

Os aeroportos do interior, damos destaque para Sinop que possui um fluxo de quase 300 mil passageiros e Rondonópolis, que de 2014 para 2015, obteve um aumento de 57,8% no volume de embarques e desembarques, com quase 100 mil passageiros, podendo aumentar ainda mais, já que está sendo ampliado, incluído no Programa Prodestur do SEDEC/BNDS.

Um setor que deve ser muito bem cuidado, pois somente em ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), na comparação de 2013 para 2014 (atualização mais recente), o incremento foi de 13,4%, sem somar os meses de novembro e dezembro de 2014. Inserido a média mensal de 2014 nos meses que não há os dados oficiais, de R$ 303 mil, o aumento na arrecadação passa para 36%, com um valor total de R$ 3,6 milhões, segundo dados oficiais da secretaria-adjunta de Turismo.

Também gera trabalho e renda. Os empregos formais nas atividades características do turismo são monitorados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). De acordo com o último levantamento, de dezembro de 2013, o setor de alimentação é o que mais emprega no Estado, com mais de quatro mil empregos, seguido pelo de alojamento, com mais de 3,8 mil.

Desde 2006, o setor que teve a mais elevada taxa de crescimento foi o de Aluguel de Transportes, 529,4 %. O que teve o pior resultado foi o de Transporte Terrestre, com saldo negativo de 59,3% no período. O principal evento do setor é a Feira Internacional (FIT) Pantanal, cujo mês de realização ara este ano é abril.

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